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A descrição de uma viagem que começou com um teste de gravidez POSITIVO
Eu faltei a muitas aulas de preparação para o parto. Fui com muito entusiasmo, mas depois achei que havia algum fundamentalismo relativamente a alguns tópicos. Não gosto disso. Como eu trabalhei sempre muito até ao fim, chegava ao fim do dia sem grande vontade de ir ouvir muita coisa que eu já sabia. Então, ficava a descansar no sofá. Claro que isso fez com que eu não aprendesse muitas coisas que eu não sabia. Um dos vários tópicos que eu perdi foi o da amamentação.
Para mim era, garantido que eu ia amamentar. Fui amamentada até aos 22 meses e só tinha boas referências da amamentação. Sempre pensei que fosse uma coisa absolutamente natural. O leite saía, o bebé mamava, eu ficava magra e o bebé crescia forte e saudável. Sempre achei que amamentar ou não amamentar era uma questão de escolha. Umas, mulheres más e egoístas que não queriam estragar o peito e preferiam manter a sua independência, escolhiam dar leite adaptado. As outras, mulheres decentes que amam os seus filhos, amamentavam.
Quando a minha filha nasceu, às 36 semanas, de parto provocado por um médico incompetente numa consulta de rotina, foi imediatamente colocada no meu peito, para aquecer e para mamar. A pobrezinha não mamou porque não saía nada e deram-lhe um leitinho num copinho. E eu continuava sem leite e ao longo dessa noite, veio a enfermeira com o leitinho no biberão. No dia seguinte, o leite não desceu, nem subiu, nem sinais dele. Puseram-me numa bomba de extração e nada. E todos me diziam que não havia qualquer problema, que o que não tinha remédio remediado estava, que o leitinho adpatado era muito bom, etc., etc.
4 dias depois da minha filha nascer, acordei com o pijama todo molhado. Tinha leite! Tratei de a pôr na mama, mas ela não queria. Chorava muito porque queria comer comidinha em abundância. Era muito sôfrega a mamar e na minha maminha não conseguia retirar nada. Arranjaram-me uma bomba e mamilos de silicone. Os últimos nunca resultaram. Passei a retirar o meu leite com a bomba e dava tudo o que podia à minha filha. Passava o dia naquilo e anotava tudo. Só mesmo quando nao tinha é que dava leite adaptado. Ia pondo na maminha, mas o desespero dela pelo biberão não me deixava insistir. Não conseguia vê-la a chorar com fome.
Se, no início, dava apenas 1 dose de leite adaptado por dia, rapidamente isso mudou. A quantidade que produzia não chegava para as suas necessidades. Então, era uma luta por mais uma gotinha que eu pudesse tirar. E eu andava de rastos. Quando só produzia 20 ml por dia, deliberadamente deixei de extrair leite. Já não aguentava mais.
O que correu, então, mal? Por que não conseguia eu amamentar normalmente?
Para mim, foi a combinação de vários factores:
1 - Cansaço e stress.
Sempre li que as pessoas deviam ir ter filhos e não dizer nada a ninguém para não terem visitas. Que atrapalham mais do que ajudam. Eu estava preparada para ganhar alguns inimigos e mandar as pessoas embora, mas a verdade é que eu me sentia bem. Estava super fresca. Parecia que nem tinha tido um filho. Tive o quarto do hospital sempre cheio de pessoas e raramente dormia entre os cuidados à minha filha. Na altura, nem sequer senti essa necessidade. Devia ser a adrenalina ou as hormonas. Vim para casa e a romaria continuou. De dia, eram as visitas, à noite eram as fraldas e o leite. Dormir que é bom, não acontecia. O marido ajudava, mas pouco. Ora estava a dar de mamar e a mudar fraldas, ora estava a tirar leite com a bomba. Estava exausta, angustiada por não conseguir amamentar e stressada com muitas outras coisas.
2 - Má alimentação.
A alimentação cuidada que tive durante a gravidez simplesmente desapareceu. Eu chegava a passar dias inteiros sem comer. Se alguém me trouxesse comida, eu comia, caso contrário metia umas bolachas à boca de vez em quando, mandávamos vir (má) comida de fora... Era o caos. O marido não cozinha, eu não tinha tempo, logo não me alimentava. Foi muito, muito mau. E só bebia quando tirava leite com a bomba. Dava-me uma sede inacreditável. Continuo a não me alimentar convenientemente, felizmente já ninguém sofre com isso, a não ser eu.
3 - O biberão.
Apesar da minha filha ter nascido antes do seu tempo, tinha bons reflexos de sucção. Mamar não era problema. Até mamava muito bem. Era, e ainda é, muito sôfrega. O biberão é o ideal para ela. A minha maminha não lhe dava o que ela queria, na quantidade que queria, então eu fui fraca e cedi à sua vontade.
4 - A culpa.
Como eu me sentia muito culpada por não conseguir amamentar, à minha volta tentavam desvalorizar. Não deviam. Eu devia ter-me munido de ajudas (sobretudo para evitar os problemas referidos acima) e devia ter vivido para alimentar adequadamente a minha filha. Fui pressionada para regressar ao trabalho e fi-lo ao fim de 1 mês e meio. Quem é que aguenta? Eu não aguentei.
5 - A ajuda técnica.
Pouco tempo depois da minha filha nascer, procurei a enfermeira das aulas de preparação para o parto. Só tinha 2 dias disponíveis e só de manhã. Num deles era melhor não ir porque ia estar a tratar de papelada, por isso podia ir no outro entre as x e as x horas. Eu andava exausta e não fui. E pronto. Ainda pedi ajuda num grupo de amamentação. Uma pessoa disponibilizou-se para me ajudar, mas também era por telefone. E eu sem tempo. Esqueci a ajuda técnica. Tudo aquilo que referi para trás não ia mudar. Como é que eu ia conseguir amamentar, se eu estava sozinha nessa luta e eu própria com pouca vontade de lutar?
Desisti.
Eu não sabia, mas agora já sei. Se eu tiver a coragem de dar um irmão a esta filha que tanto amo, há erros que não vou cometer. Sobretudo, quem vai comandar as coisas vou ser eu. Eu preciso de fazer apenas o que eu quero e não o que me dizem para fazer. Acabaram-se os palpites e imposições. Não me vou importar de ser a má da fita, porque há algo que se sobrepõe a isto tudo. Vou criar todas as condições para amamentar e vou fazê-lo.
Ainda consegui tirar uma foto e fazer um pequeno vídeo da minha filha a ser amamentada por mim. Não imaginam a quantidade de vezes que os vejo. Sei que não fiz tudo o que devia, mas fiz o máximo que as minhas forças permitiram. O vínculo que se estabelece durante a amamentação e ao qual eu não tive acesso, estou a tentar estabelecê-lo estando sempre com a minha filha. Quero ser eu a fazer-lhe tudo e quero aprender tudo por ela. Está linda e saudável, mas a culpa de não lhe poder dar o melhor seguro de saúde que há ninguém ma tira.
Bem sei que a gravidez é muito precoce e tudo ainda pode acontecer, mas podemos falar do assunto, ou não? O meu marido, nesta altura, diz que já está farto de me ouvir, que não tenho outro assunto e que não aguenta mais.
O meu marido sempre quis ter filhos. Aliás, o sonho dele é ter 20 filhos, espalhar a sua semente pelo mundo. Por outro lado, eu nunca tive dessas ambições. Acho que um filho está bem. Talvez dois, se a experiência for muito boa.
Quando resolvi parar de tomar a pílula, embarcámos nesta viagem, deixando Deus decidir o seu rumo. Nunca houve ansiedade, até porque, mesmo que não engravidasse, estava tudo bem (?).
Temos uma situação financeira bastante confortável, apesar de instável. Nada que não impeça trazer um filho ao mundo.
Agora, sempre que quero partilhar alguma ansiedade ou mesmo novidade com o meu marido, diz que não quer ouvir porque ainda é prematuro e que só se vai preocupar quando chegarmos aos 3 meses.
Eu posso tentar compreender a sua reacção porque uma das nossas amigas mais próximas teve 2 gravidezes que não evoluíram. E havia expectativas, e nomes, e planos, e depois foi tudo por água abaixo. Como acompanhámos de perto essa experiência tão traumática, acho que se está a tentar proteger. Mas, então, e eu? Devo fazer o mesmo? Como é que uma mãe se protege? Como é que me abstraio do bebé que o teste de gravidez diz que eu tenho na barriga? Já não consigo!
Da minha parte, não comprei nada, não vou comprar nada, não penso em meninos ou meninas, não penso no quarto do bebé e faço os possíveis para não pensar no parto. Esta parte ainda não consigo controlar, por mais que tente. :D
Ouvi dizer uma vez que os homens só se sentem pais quando vêem a criança. Não sei se vou aguentar a indiferença até lá. Para já, o que o meu marido pensa é nas noites em que não vai poder sair, os carros que não vai poder comprar, as viagens que não vai poder fazer. Sendo muito honesta, também penso nisso, mas há algo superior - um filho.
Nós somos absolutamente loucos pelos nossos gatos. Creio que com um filho será incomparavelmente melhor. Eu já sei isso. Será que um homem precisa de 9 meses para perceber isso?
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