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A descrição de uma viagem que começou com um teste de gravidez POSITIVO
Ontem, eu e o meu marido fomos tomar café com um amigo. Ele e a mulher estão a pensar seriamente em ter filhos e é normal fazerem-me perguntas. Aliás, é normal as mulheres fazerem-me perguntas. Elas, sim, é que são curiosas para saber cada etapa que vou passando. Os homens são mais tímidos, ou desinteressados, e deixam isso para as mulheres. Ontem, o meu amigo quis saber umas coisas, mas já antes outros amigos nossos me fizeram estas e outras perguntas e são espectaculares. Eles não têm mesmo ideia nenhuma de nada. :)
- O médico não te pediu que comesses por dois?
Não, não pediu. Pelo contrário. Desde o início que me pediu que tivesse muito cuidado com a alimentação, que reduzisse a ingestão de hidratos de carbono e comesse muita frutinha e legumes. Agora agradeço não ter engordado muito durante a gravidez, porque no fim é inevitável. Neste momento é o ar que me engorda.
- Tens desejos?
Tenho, tenho muitos desejos. E sempre tive. Neste momento, desejava ardentemente teletransportar-me para umas horas depois do parto. Vá, o tempo suficiente para já não ter dores muito fortes. Os homens, claro, referem-se a desejos de comida. Por algum motivo, eles preocupam-se imenso com o peso das suas mulheres. Eu tenho uma teoria sobre esta questão dos desejos e é apenas minha. Eu acho que é um mito e não creio que a gravidez traga desejos especiais. Porém, como a gravidez traz tanto desconforto, altos e baixos emocionais, é normal que as senhoras se refugiem na comida. E isso pode acontecer em qualquer fase das nossas vidas. Outro motivo pode ser mesmo um pedido do corpo, que tem défice de algum nutriente. Agora, aqueles pedidos às 3 da manhã por um McFlurry, na minha opinião, só podem ser mimo e chantagem emocional.
- Dói-te a barriga quando a pele estica?
Doeu-me a barriga apenas quando, nos primeiros meses de gravidez, o útero estava a esticar. Eram umas dorzitas semelhantes às mentruais e depois passou. Nessa altura, nem barriga tinha. Agora que tenho um barrigão não me dói nada, mas sei que a pele está a esticar. Não dói, nem me faz qualquer impressão.
- O teu umbigo já saiu?
O meu umbigo não saiu e não creio que vá sair. Tenho um umbigo fundo e acho muito difícil ficar exteriorizado, como já vi muitos ficarem. Acho que isso depende muito do umbigo que tenhamos e do tipo de barriga que fizermos. A minha é larga. Acho, até, que estou grávida nas costas.
- Aquela linha escura na barriga não são pêlos?
Pois é, não são pêlos. Não sei onde é que eles foram buscar essa ideia. Talvez tenham visto alguém com essa linha vertical e que, por acaso, tinha pêlos. Essa linha era daquelas coisas que eu desejava imenso não ter. Por acaso não tive e acho que se deve ao facto de eu ser imensamente branca de pele. A linha é causada pela pigmentação da pele na zona em que o músculo abdominal se estica para acomodar o bebé, ficando ligeiramente separado. Aquilo é basicamente uma estria, mas escura. Vai desaparecer após o parto. É por esse motivo que outras zonas também ficam pigmentadas, como mamilos, sinais, sardas, axilas e virilhas. Até nessas zonas não pigmentei muito precisamente devido à minha cor de pele.
- Sentes o bebé a mexer?
Txiii. Estou grávida de 31 semanas e ainda há homens a fazer-me essa pergunta. Seria muito mau se não sentisse a minha menina a mexer. Mexe, sente-se a mexer e vê-se que mexe. É uma festa lá dentro. Até suspeito que não esteja sozinha.
O mais engraçado nestas perguntas é que vêm sempre acompanhadas de uma cara de desconforto, dor, repugnância ou 'ai, que até tenho medo de saber a resposta'. Comigo podem estar à vontade. Eu falo sobre tudo, sem quaisquer pudores. Ainda aguardo as perguntas sobre o parto e amamentação. Devem ser hilariantes.
E, às 9 (quase 10) semanas de gravidez, eis que ainda não fui invadida por aquela sensação de amor inexplicável.
Sei que isto pode parecer horrível aos olhos de muitas mulheres, mas é a mais pura das verdades. Eu sempre me senti uma pessoa bastante maternal e protectora, mas apenas com a minha família, amigos e animais. Sou imensamente preocupada, atenta e solto as minhas garras de leoa para os proteger.
Conheço muitas mulheres que, assim que sabem que estão grávidas, começam logo a chamar de filho, dar nomes, fazer projectos... e eu não sinto nada disso. Neste momento, sinto imenso as transformações físicas que estão a ocorrer comigo, mas esse amor e ansiedade por conhecer a criança ainda não chegaram.
O que eu sinto desde o primeiro dia é uma necessidade enorme de me proteger para não fazer mal ao bebé (ou projecto de bebé). Tenho imenso cuidado com o que como e quando como. Procuro não fazer esforços abdominais ao espirrar ou tossir, sentar-me ou levantar-me, usar roupas apertadas. Não consigo não deixar de pensar nisso. Ainda nem voltei ao ginásio porque tenho medo que possa fazer mal ao bebé.
Porém, todas estas preocupações não me fazem propriamente sentir mãe de ninguém. Acho que protejo tanto esta criança que cresce dentro de mim, como protegeria qualquer outra criança ou ser humano que dependesse de mim desta forma. Não há nada de especial por ser meu. E acho que deveria sentir mais qualquer coisita, não?
Li um artigo que dizia que por algum motivo o período de gestação são os 9 meses. A mulher precisa, efectivamente, desse período de tempo para criar vínculos com o bebé. Há mesmo o perigo de, em casos de nascimento prematuro, esse vínculo ainda não estar estabelecido. Será que vai ser esse o meu caso? Tenho que aguardar os 9 meses?
Este é um dos meus maiores receios, não conseguir amar o meu bebé da forma que ele merece. Vejo todas as grávidas tão entusiasmadas, felizes, excitadas com a chegada de um novo membro, um bebé só delas, e eu só ainda consigo pensar no que vou engordar, estrias e partos dolorosos.
Se eu amo tanto os meus gatos, não serei eu capaz de amar o bebé que cresce todos os dias dentro de mim?
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